TRATAMENTO DE CHOQUE

Quando eu era pequena morria de medo de carranca.  E de veemência.  Aliás, até bem pouco tempo atrás eu continuava a morrer de medo, só que não gritava mais. Comecei a ter  pesadelos com alguém com  cara de brabo e com falação vibrante  e,  se a postura fosse  de “como é que pode você dizer uma dessas coisas de mim?”,  eu corria e me escondia debaixo da mesa. Completamente crédula. Chegava até a creditar em Presidentes do Senado. 

Pois não é que fiquei curada, assim, de repente. Ou quase.

Minha amiga diz que deveria tomar umas pílulas com o estranho nome de Desconfiometrex,  de 1000000  mg - dose cavalar – depois que eu insisti em ver a TV Senado, a TV Câmara, os noticiários políticos e ler jornais.  Ela diz que, depois do tratamento se alguém me disser bom dia eu vou olhar na janela para conferir. Pode? 

Não sei se realmente estou  curada. Ainda tenho pesadelos com uma estranha carranca de sobrancelhas grossas e quase em pé.  Deus, e como é veemente! Assustadora. O filho de minha visinha diz que viu uma igualzinha  na TV . Sabe como é, crianças são super impressionáveis.

Sei que carranca tem tudo a ver com “cara de pau”.  As dos barcos do rio São Francisco estão aí para não me deixar mentir. E sei que carranca também ter a ver com “mau olhado”. Só que acho que  essa carranca do meu pesadelo traz mau olhado em vez de nos livrar dele. Mas veemência tem a ver com quê? Quer dizer que quanto mais você esbraveja mais culpado você é? Nunca ouvi falar de algum santo que, desejando provar sua inocência, ficasse esbravejado aos quatro ventos. Mas talvez esteja enganada.

O pior é que, agora, vivo vendo “caras de pau” em todo lugar.  Tudo começou com um ex-senador, dono de um time de futebol.  Dava pena ver os discursos que ele fazia dizendo-se inocente.  Tem o caso do Juiz Lalau – esse, nem no laudo médico dele dá para acreditar.  Um juiz de bom gosto imobiliário, não se pode negar. 

Estou ficando  incrédula, mas o que você quer?  Assisti a todos os discursos dos senadores - o  baiano e o de Brasília. Um, um político super tarimbado e respeitado há montes de anos e... nunca, nunca, nunca, seus pares desconfiaram de nada ... o outro era porta-voz da Presidência da República...  Foram dias de repúdio veemente a qualquer atitude desonrosa que pudessem ter praticado. Veemente é pouco. Veemente contundente também é pouco. Tinha que ver e ouvir. Até eu fiquei indignada com as acusações! Tão sérias para um Senador da República, que diria para 2. 

Incrédula mesmo? Bom,  nem tanto também. Acredito piamente,  por exemplo, no Procurador Geral da República  que não encontra nenhum vestígio de culpa nos processos que ele arquiva tão prontamente. Dizem as más línguas (devem ser mais incrédulas que eu)  que já não existe mais lugar  para arquivar nenhum processo, vão ter que construir um anexo.  Confio nele. Para chegar aonde chegou deve ser um homem que se utiliza de altíssimos gabaritos. Por exemplo, não adianta quererem condenar alguém anexando extratos  bancários, testemunhas, documentos oficiais,  etc.,  esses itens corriqueiros.  Contaram-me, em segredo,  que ele exige que tenha a fotografia do flagrante,  tirada por fotógrafo oficial, devidamente credenciado para tirar aquela foto e autenticada pelo ATF (Assessor de Testemunho de Fotografia).  Ele não quer ser acusado de injusto. Você não acha certo? Veja o caso do Jader. O processo já foi e “refoi”,   diversas vezes e ele não encontrou nada.  Agora você já sabe porquê. Faltava a foto. 

Estou virando uma completa incrédula? Ou o contrário? Já nem sei mais. Quem são os acusadores e quem deveriam ser  os acusados? Está ficando tudo embaralhado na minha pobre cabeça.  E a comissão de ética?  É  ética? Deveria "se investigar-se"? Vivo momentos de confusão com esses pensamentos estranhos.

Mas se você  também sofre de mania de acreditar em tudo que ouve, meu conselho: assista a TV Senado e TV Câmara, aos noticiários e leia os jornais.  É tratamento de choque. Você se cura num piscar de olhos.

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